ISADORA CANELA
| contemporary art | storytelling | community building
PAISAGENS MINADAS | RESUMO PARA QUEM?
série de 50 pinturas
20cm x 20cm
Acrílico sobre papel preto 300g/m2
A mineração é o alicerce, a fundação que sustenta há séculos o padrão colonizador, predatório e assassino da modernidade. Foi a razão pela qual territórios latinoamericanos, africanos e asiáticos se mantiveram como colônias européias por séculos e continuam. O brilho do ouro para a fabricação de artefatos como brincos e jóias destinados à elite européia foi suficiente razão para o genocídio e escravização de milhões de pessoas. Esta não é uma história do passado.
Se olhar ao redor verá que a mineração lhe circunda. O ferro e outros minerais estão provavelmente presentes nos objetos que tocam seu corpo nesse instante, tal como em seu cotidiano. O celular, o trem, o carro, a bicicleta, o fone.
Mas é do outro lado do globo que a beleza e utilidade comercial reluzente dos metais se mostra em outra forma: buracos quilométricos de uma paisagem completamente adoecida pela lógica de mercantilização da Terra e dos seres que nela habitam, inclusive nós seres humanos. Cicatrizes.
O grande filósofo indígena brasileiro Ailton Krenak diz: "Esse pacote chamado de humanidade vai sendo descolado de maneira absoluta desse organismo que é a Terra, vivendo numa abstração civilizatória que suprime a diversidade, nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos." A mineração, da forma como é feita, é um imperativo de morte, cultural, ambiental, humana, e não vê-la é parte do privilégio desresponsabilizador de quem pode simplesmente abstrair.
Nesse sentido, a série de pinturas aparentemente abstratas ao mesmo tempo que revela na materialidade a referência estética de territórios minerados, propõe também uma reflexão sobre o "abstrato" como elemento chave para a sustentação de imaginários colonizadores.
Marrom, vermelho, roxo, amarelo, paleta que emerge do fundo da terra e substitui o que outrora fora verde vivo.
Quem já viu de perto uma mina de minério de ferro provavelmente seria capaz de associar as pinturas desta série à memória de uma paisagem minerada. Enquanto o olhar de quem está fisicamente distante pode facilmente considerá-las abstratas, ainda que boa parte de seu universo venha dali. Somos formados pelas paisagens que nos rodeiam e sustentados por aquelas que escapam aos olhos.
O filósofo e naturalista alemão Alexander von Humboldt diz que "A visão de mundo mais perigosa é a visão de mundo daqueles que não viram o mundo".
Esta série é também um convite a olhar por outras paisagens, perceber o mundo que circunda outras janelas. Pequenas, a escala das pinturas pinturas contrastam com as dimensões estratosféricas do que elas retratam, é como se solicitassem o olhar de perto, um movimento de aproximação por parte de quem se coloca em confortável distância. E, a partir deste encontro abrir espaços para que novos laços e imaginários se formem. Como bem descreve Ailton Krenak: "É importante viver a experiência da nossa própria circulação pelo mundo, não como uma metáfora, mas como fricção, poder contar uns com os outros."