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UTOPIAS GERMINATIVAS

instalação viva | 2022

diversos materiais
 

Para um mundo colonizador, capitalista e extrativista que exalta a destruição e mercantiliza a existência em sua pluralidade através do pensamento egocêntrico e antropocentrista, o óbvio pode ser justamente o que nos falta: a humanidade não está desvinculada da natureza, não há eles e nós, vivemos em uma rede de interdependências chamada Planeta Terra. 

Essa reflexão, a princípio tão simples e clara, é capaz de destituir de sentido à lógica que sustenta os padrões predatórios da sociedade contemporânea tão bem representados pela indústria de mineração e suas graves consequências humanas e ambientais. Isso porque essa lógica está ancorada no distanciamento entre o homem e a natureza para justificar sua própria existência. 

Como bem descreve o filósofo indígena Ailton Krenak "quando despersonalizamos o rio, a montanha, quando tiramos deles seus sentidos, considerando que isso é um atributo exclusivo dos humanos, liberamos esses lugares para se tornarem resíduos da atividade industrial e extrativista "

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Inspirado no jardineiro e naturalista Gilles Clement este trabalho traz plantas invadindo e redesenhando a casa. Para entrar nos espaços é imposta ao ser humano a condição de adaptação. Nesse universo lúdico e ao mesmo tempo imperativo os caminhos são guiados pelo reino Plantae.  
 

Não é por acaso que a instalação que rompe as paredes pré-definidas para abrigar o “jardim” acontece em uma casa que abriga um jardim colonial francês, impecavelmente controlado e com o propósito arquitetônico de ser visto de cima. Não, você nem precisa entrar, essas vidas são dispostas lá para o deleite de uma estética eurocêntrica que anseia desesperadamente pelo controle da terra, da vida. 
 

Colocadas no altar da intimidade, dentro da casa, o espaço mais privado e protegido que se pode habitar na concepção urbana, as plantas invadem o espaço, provocando também a reflexão sobre o direito à vida e a liberdade de existir no ambiente que é casa. São direitos que o ser humano parece ter tomado exclusivamente para si, reduzindo o resto do mundo a uma prateleira exploradora na transformação da vida em mercadoria. Nesse contexto a obra traz o avermelhado tão presente na mineração matadora, para ser reinventado junto com o verde, em um universo vivo. 
 

Gilles Clement diz que na busca pela preservação da diversidade "a primeira coisa que tive que fazer foi esquecer tudo o que me ensinaram. Fui ensinado a matar. Era preciso matar para eliminar qualquer coisa errada. Doenças, plantas, animais insetos."

Esta instalação é sobre um lugar onde as utopias brotam e a diversidade da vida é colhida. 

Nesse contexto, o trabalho se propõem a refletir sobre a rede que compõe a vida e a realocação do protagonismo. Ao mesmo tempo, provoca o público a refletir e agir na germinação de outras vidas possíveis. 

PROCESSO

desejo - morte - vida - angústia - renascimento - plantio - cores - cheiros - desejo - memória - ciclo - suor - tempo - vida - rabiscos - desejos - e-mails - vida - ciclo - cheiro - comida - rabiscos - suor - água - solo - desejo - delight 

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