ISADORA CANELA
| contemporary art | storytelling | community building
COMIDA DE FUNGO
Várias dimensões
Gravata, espelho, dinheiro, terra, algodão, alfafa
"O que os brancos fazem com todo esse ouro? Eles comem?"
É o que pede o grande líder indígena Davi Kopenawa do povo Yanomami. Seu povo resiste há séculos para sobreviver, manter suas vidas e costumes e pela preservação da floresta amazônica contra os invasores do garimpo ilegal. Atualmente, a escalada da exploração mineral ilegal na Amazônia assumiu proporções assustadoras e criou um rastro de carnificina ambiental e indígena.
Há um genocídio em curso, legitimado pelo governo brasileiro e financiado pelo capital estrangeiro. A exemplo do rompimento da barragem de Brumadinho já contextualizado, o mais recente episódio contra o povo Yanomami, no qual uma criança de 12 anos foi estuprada e assassinada, e também o assassinato do antropólogo Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, ambos crimes com fortes indícios de relação com o garimpo ilegal, expõem a atrocidade da indústria extrativa mineral e a impunidade pela qual ela passa. A união de duas armas poderosas: um governo que trabalha contra a própria constituição e legitima práticas ilegais em benefício de grandes empresas. Junto com a força do capital internacional que continua financiando as empresas que se beneficiam da extração ilegal de madeira e todo o cenário que a cerca. É o caso de grandes bancos alemães que atualmente investem em mineradoras brasileiras em conflito.
É um padrão que se repete na maioria das situações envolvendo o modelo de extração mineral no Brasil contemporâneo: a banalização da morte e a mercantilização da vida humana e não humana.
Nesse cenário, a instalação propõe a ressignificação de objetos que são, a priori, sinônimos de poder e opressão.
O que acontece quando lembramos que dinheiro é terra? E que o eu é terra? Minha mercadoria, é o solo?
Plantáveis, somos seres plantáveis. Tudo, todos. Cada um no seu tempo, mas no limite, somos todos uma procissão de materiais orgânicos a caminho de virar comida de fungo.
Nessa perspectiva, as razões que sustentam o capitalismo parecem perder o sentido e o glamour, quando vistas assim, tão inescapáveis da vida.